sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008

Vermelho

Vermelho, talvez seja a luz amarela incidindo contra o já velho carinho de pipocas que fez daquele dia particular um momento memorável.
Talvez seja o brilho nos olhos da luz de uma criança que tenha tingido de alegre o cinza da tarde derradeira.
Na verdade, acredito que o Universo tenha algumas razões recônditas para revolucionalizar a reacionária razão humana.
Durante alguns dias, de vermelho, algumas horas foram tingidas. Parece-me que um pouco daquele aroma melado, misturado com os abafados gritos e as longas gargalhadas envolveram minutos diminutos de duradoura dor.
Curas, prodígios e milagres foram presenciados por uma penitente que ousou tocar no manto purificado por sangue.
Ou foram ovidos os sons das lágrimas de uma mulher que esperou por mais de vinte anos a volta daqueles que denominavam o astucioso?
Um dia, ouvi dizer essas foram levadas para o mais distante relicário da terra dos vivos. Não conseguem ser encontrados pelo Coração de Leão, nem pelo Fogo do Dragão.
A verdade é que estariam pendurados na teia de era plantada acima da cama daqueles que pretendem afastar o pesadelo trazendo para seu leito seus medos, suas dores, seus pavores, seus amores. Dançaria enquanto o mundo gira ao som da roca de fiar, da mancha que não para de nos engolir.

Dói assim? Sim. Infelizmente. Dor? Melhorou, não sinto mais nada.

Vermlho, talvez seja a luz branca incidindo sobre a blusa cravejada de rubis que fez daquele minuto uma pequena eternidade.
Talvez seja o brilho nos olhos da luz de uma mulher que tenha tingido de triste a dor daquela manhã primeira.

Ainda dói. Bendita és tu cheia de graça. Sim, sim, conheço essa parte. Agora podes curar a metáfora? Não: vermelho.

2 comentários:

Dc disse...

Nossa, que lindo, tão religioso, sacro e ao mesmo tempo profano. Também é trágico e ao mesmo tempo prosaico. Olha aí a questão da dualidade sempre presente no seu trabalho.

The tone disse...

Concordo com a diva!
Vi uma dualidade atravessando o texto todo... acho que sua geminianeidade à flor da pele. Achei intrincado... um daqueles seus textos que não dá pra ler só 3vezes (rs) pra entender. Mas penso, a tristeza, realmente é mais inspiradora do que a alegria, não é?
Você já ouviu falar das propriedades do vermelho na cromoterapia? e nao seria a cor da revoluçao?
^^