domingo, 13 de julho de 2008

Batizado

Sangue e sujeira, dor e morte. Não morri, revivi. A música completa um ritual sem regras. A regra é seus olhos. Embalada por sua voz, sigo em frente. Minha voz é falha. Nem percebo quando tocam a minha mão. Seu sorriso é tímido. Você, em sua infantilidade madura, guia meu espírito a uma nova estrada: será que há pedregulhos e espinhos nesse caminho? Francamente, a dor não é mais tão pungente agora, pois o afeto surge de momentos como esse: simples e dolorosos. Tristes e alegres. Sim, você é um sonho. Sim, você é também um sonho, mas não me é permitido sonhar nessa área de minha vida. Uma casa e um lar parece algo que só um milagre trará. Será? Mas, seus olhos me guiaram e guardaram de todo perigo. Não coloquei em prática o que aprendi: fiquei com medo. Outra mão me empurra e acaricia. Como queria sentir mais de suas mãos. Pareces tão simples, pareces tão carinhoso. Por que estás longe? Fechei meus olhos quando estava em seu abraço, não compreendo a razão de desejar o que não me é permitido: pé na roda. Quando entro o sol reflete minha sombra no asfalto: o cheiro de meu sangue se mistura com o seu olhar, queria que fosses meu padrinho... meu amante, meu amigo, meu filho. Não és, esquivo. Consegui. Chuto. Consegui. Queixada, não foi. Opa, olha a roda, vamos cantar coro, não deixa cair. Quando entrei, vi a sombra de uma guerreira. A temporalidade mudou, os olhos e os espíritos foram outros. Fiquei com medo, mas vi uma guerreira. Senti um frio em minha espinha que se multiplica ao escrever essas linhas. É tudo tão confuso, mas não estava ali. Estava ali naquele momento, mas não era eu: era essa guerreira que fui e quero ainda ser. Tomar as rédeas dos movimentos e, como uma pirueta, voar acima dos golpes e dos chutes. Quem disse que não é bom apanhar um pouco. Quanto sangue não foi derramado para a capoeira ainda estar ai hoje em dia? Sim, mestre. Litros intermináveis. Assim como as lágrimas da guerreira que ainda não se encontrou. Opa, o corte abriu.

domingo, 6 de julho de 2008

Primeira Semana no Jogo da Capoeira

Essa noite eu sonhei com o jogo da capoeira, estava todo mundo, não faltava ninguém. Capoeira é isso, capoeira é luta, um pode acertar o outro, mas se está na roda para jogar. Meu coração pulava a cada sílaba que saia da boca do professsor. Sim, sim, dizia eu enquanto a felicidade inundava meu ser. Tenho muitos erros, demoro para acertar o passo. Esquivo, tiro o pé, não era para puxar a perna, puxo, mas continuo. Capoeira é defesa é ataque, é luta de corpo, é malandragem. Vamos lá, Vivi. Vamos, não vou desistir. A cada ginga, minhas pernas doem mais, a cada agaixada, meus músculos parecem que vão entrar em colapso e deixar o meu corpo. Não deixam, eu contino. Vamos aprender outro? Vamos! Cocorinha, é uma esquiva. Ginga prá cá, ginga prá lá e desce. Pegou? Mais uma vez? Ginga prá cá, ginga prá lá e desce? Pegou? Peguei. Repete, repete, repete, saiu! Viva! Tá bom, hora de aprender outro. Meu Deus, será que vou conseguir? Não é fácil, já dizia Hemingway, não há nada que seja fácil nessa vida. Há de se vencer barreiras psicológicas, barreiras físicas e barreiras genéticas. Alguém, um dia, disse que ao fazer isso estaria indo contra a minha essência. Por que essa não pode ser minha nova essência? Uma nova identificação, um novo retorno às minhas origens? Estou extremamente subjetiva? Sim, estou. Essa nova decisão fez-me sentir viva novamente. Não havia reparado o quão dependente eu estava, o quão ridícula a procura de algo para completar a mim memsma, mas foi necessária uma roda de capoeira, uma semana de capoeira para devolver a essência que estavam proclamando aos quatro cantos do mundo que estava indo contra. Essa é a minha vida agora, viver de acordo com os meus comandos, de acordo com o som do berimbau. Trouxe-me à vida novamente, tirou-me da depressão de dois anos e esfregou em minha cara que devo me amar, amar a quem eu sou. É na aula de capoeira. É lá que me senti viva. Mais viva do que um exército rumo à batalha final, mais viva do que todos poucos felizes do rei, mais viva do que o homem ao ver o nascimento de seu primeiro filho. E sabe o por quê disso? Porque essa noite eu sonhei com o jogo da capoeira, estava todo mundo, não faltava ninguém. Obirgada professor P., obrigada amigo R., vocês são pessoas abençoadas por Deus, protegidas pelos orixás. Ajudam-me como ninguém, acreditam em mim mais do que mim mesma. Obrigada por ajudarem a me tirar da depressão. Obrigada por me mostrarem que a vida vale a pena, obrigada por me mostrarem que, quando se referem a mim como a professora brasileira, tenho mais é que ter orgulho. É ginga de corpo, é malandragem.