domingo, 3 de fevereiro de 2008

O Passado

Dói muito quando o futuro carrega o mar.
não sei se o mar ou o continente, mas a vida
interia passa pelo verbo sem cachaça.
Eu não consigo mais dormir,
nem mais cantar, só sei de nada.

Quando o passado olha para mim, vejo nada.
Benjamin estava errado, tragédia nada.
O vazio tomou conta de tudo sem vida.
Mas a vida não está contida no nada?
Então, eu preciso daquele Ângelus Novus.

Onde está Paul Klee, onde está meu Debussy?
Foi tudo em vão? Valeu a pena, sei lá Deus.
Eu quero a insalubre água para me lavar,
quem sabe vão poder me chamar de boazinha,
Ou vão me condenar... eu já me acostumei.

Eu quero ter tempo para inventar um poema
daqueles que fiquem bem bonitos, com rima.
Mas o anjo não deixa. Vai embora, sai!
É difícil quando ele gruda na sua mente.
Ele não te deixa em paz. Eu quero chorar.

Eu respiro fundo e deixo a casa de vidro.
Com panelas de fumo eu quero comida.
Eu quero minha vida, amor, piano.
Quero voltar a rimar, ser a mais bonita,
mas o continuum quer que eu cruze o continente.

2 comentários:

Dc disse...

Oi, Viviane. Tudo bem? Faz tempo que não deixo um comentário, mas tô sempre lendo. Gostei muito dos dois poemas, desse último principalmente. Tão metafísico, intimista, existencial, sei lá. Parece a Cecília Meirelles, mas acho que é melhor, mais denso, mais contemporâneo. Parabéns.

The tone disse...

Que jogo complicado!
Li o poema uma vez de tarde e senti uma tristeza crescente a cada verso. Um fastio, uma raiva, oras velada, oras escancarada.
Daí, relendo pra poder postar minha impressão aqui, senti outras coisas, senti também uma impossibilidade de aceitar o que lhe era concedido, um certo tom de desafio... um ir e vir entre fatalismo e escolha.
Tou viajando muito? Só vc mesmo pra me fazer analisar poesia!!!rs (como diria a Bianca, a-do-ro)