quarta-feira, 1 de julho de 2009

Casa comigo?!

Procuro seu corpo como o lambari sedento por lambidas e lampejos e despejos. Cartas roubadas e sonhos suspensos. Procuro seu corpo como rosa madura presa no calcanhar do asfalto e louca por semideuses. Fotos de anúncios e máquinas de lavar me fazem procurar por seu corpo debaixo do sofá e em cima da cama. Em uma busca adjetival tombo com seus olhos na escada e peço para o anjo do armário cuidar de você e trazer as suas mãos para que eu possa tocar com elas. Seus lábios estão perdidos na tela de meu computador. As suas duras palavras brincam com as artérias de meu coração, queimam com ferro em brasa as minúsculas veias de minha sanidade com um enorme ponto G. Sentimentos perdidos num cais a meia noite, digo Adeus, você não vem? Mas sou linda e em meus cabelos uma trovoada de diamantes fazem caracóis de corcéis cor de purpurina. Sou linda para você e ofereço a ambrósia dos deuses, e você está sem fome do sublime e prefere o baixo. Digo tudo bem, eu digo, sem problemas, e ok, sem saber que, implicitamente já estou indo embora e tirando os seus olhos, as suas mãos e os seus lábios de mim. Nada pode ser tão caramelo e belo como o que sinto por você, mas é camelo e contenção. Sim, por você, sim, eu digo sim e viveria como uma Penélope, sim, preciso limpar e fazer faxina, sim. Ontem vi a primeira vez que o vi vivo, vendo vários viveiros de viúvas víboras... olha como não consigo me expressar porque tudo que sinto é maior do que palavras e menor do que a ficção. Não pode ser tão sofrido, diz você, mas como não pode se você sou eu me lembrando de quem eu sou toda hora e querendo que eu seja eu em uma sinestesia desafeiçoada e embrulhada com melodramas e épicos pós-vida. Tem um homem que ensina língua neo-helenica e chama Probano na rua perto da Paulista, casa comigo, vai? Não, não dá, nunca deu. Casa comigo? Eu te dou uma vida de rei? Casa comigo e esquece que existe vida, planta uma flor no asfalto, assobia para as crianças e acaricia a minha face. Não, não dá, flor. A missão não é minha, a vida não é minha, mas você é eu e eu sou a Helena. Lembra? A de Tróia, roubaram a coitadinha e fizeram a maior confusão só por causa dela, só por causa dos seus cabelos com ouro fundido... só por causa da sua mente sem dente, mas com pente e beleza. Sabia que você é lindo e eu roubaria você para mim amanhã. Levaria seus olhos, seus cabelos, suas mãos para longe comigo e te daria de comer, vestir e beber. Casa comigo? Te dou vento, te dou susto e pânico. Casa comigo? Na minha mente vai dar, você sou eu e eu sou a Helena.

2 comentários:

The tone disse...

Meu!
Deu um surto inventivo? Se eu tivesse aqui hahaha
Os dois posts ficaram excelentes. Parecem uma Vivs mais madura, mais desencanada, com outras preocupações e perguntas existenciais.
Há um humor fino que faltava e que dá o texto a leveza necessária das saladas feitas com vegetais orgânicos.
Seria mais seu fã se ja nao fosse todo.

Yemanjá disse...

É lindo! Gosto muito da musicalidade, da forma como flui o texto, da leveza.
"lambaris, lambidas, lampejos, despejos"
"víveiros de viboras vivas"

Dá vontade de ler em voz!