Enquanto o mundo lá fora continuava a correr em passos acelerados de gavião, Atena olhava a espada pendurada em sua parede. Ela olhava para a avenida conturbada enquanto acariciava a lâmina afiada. Sangue, um descuido e a fatalidade. Não há o que fazer além de mirar o dedo a pingar o sangue dos guerreiros, a escorrer a escama da escória. A saliva entra em contato com a fluidez do ferro e fecunda o fruto da ferocidade: um barulho e tudo silencia. O mundo resolve se vingar e oferece uma batida, uma colisão: um carro e um caminhão; um ônibus e pessoas. Os corpos sofrem, a lágrima desce, Antena se ajoelha e faz uma prece. No fim do dia, a guerreira torna-se cristã e veste a armadura dos templários. Nesse momento ela persegue indianos, paladinos, judeus, messiânicos, Jeová e bispas Sônias: insônias, nesse segundo ela chora por uma civilização carente de cuidados e laços, brinquedo de centauros, filhos de esfinges. Idílios e vidrilhos de luzes espalhadas pelo universo: estrelas do firmamento. Laço, desenlaço, descalços e dispersos, mendigos a implorar alguma outra forma de negação, a afirmação. Atena larga a armadura na varanda e agarra a espada. Em forma de cruz, ela aponta a fina lâmina para o caos de lá de baixo e fecha os olhos, e vê Odisseu e vê Aquiles, e vê a civilização e a barbárie, puxa rápida a lâmina contra seu corpo e se cala, e se fecha e se olha a se olhar na lâmina translúcida. O tombo, o rombo o eixo de pessoas circundado os veículos, a batida, a porta, a horta, a aorta, morta. Sem vida, na lida e na ida. Sem eira, nem beira. Nua, o menino precisa de ajuda, a mãe está nas ferragens, o ferro da guerreira pode salvá-la. Ela se prostra, não se mostra como uma ostra, mas como o vento. Pega o menino pela mão, a beija, o beija, corre para o campo e dribla os animalescos inimigos, vestidos com Armais e Guccis, Pradas e Dolces, Gabbanas, Gabriellas, vê a mulher, saca a espada, recupera sua mãe. Sem dor a mulher desfalece, o corpo já sem vida padece e esquece que precisa viver. Ela agarra a espada e fere o pulso. Erra. Ela mesma não consegue a absolvição de uma vida inteira de frustração.
segunda-feira, 7 de setembro de 2009
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